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sexta-feira, 14 de junho de 2013

Honorino - Atividade recuperação contínua - 2ºs anos



ATIVIDADE DE RECUPERAÇÃO CONTÍNUA - FILOSOFIA

SÍNTESE FILOSÓFICA – TORNAR-SE INDIVÍDUO

 

Aniversário – Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)

 

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais       copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

           

Após a leitura do poema responda as seguintes questões abaixo:

 

1-      No poema de Fernando Pessoa, encontramos um senhor lembrando com saudade de quem era quando criança. Ele sente que perdeu alguma coisa, o que foi?

 

2-      Em relação ao passado, o autor expressa raiva na seguinte frase: “Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...”. O que você imagina que o autor gostaria de ter trazido do passado na algibeira?

 

3-      Segundo o poema, o que sente o autor sobre aquilo que foi e o que se tornou, com a passagem do tempo?

 

4-      Escreva sobre lugares dos quais você se lembra com saudades de sua infância. Não se esqueça dos detalhes, como no poema, por exemplo: “A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na louça, com mais copos; o aparador com muitas coisas – doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado; as tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa”.

 

5-      Como você sente as transformações em sua vida? O que mudou dentro de você desde sua infância? É melhor agora?

 

6-      O que faz a mudança dentro das pessoas? Somente elas? Os acontecimentos? As pessoas em volta? Justifique e exemplifique a sua resposta.
 
ENTREGA: 19/06 (quarta-feira) ou 20/06 (quinta-feira)

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